Você pode não ligar o nome à banda, o que seria muito natural. Afinal, Spike Edney não costuma figurar em reportagens ou retrospectivas sobre a carreira do Queen. Mas o músico britânico tem sido, há mais de três décadas, peça fundamental da estrutura que manteve o grupo vivo mesmo após a morte de Freddie Mercury. Encarregado de tocar teclados, guitarra e fazer backing vocals nos shows do Queen, Spike (batizado originalmente Phil) marcou presença no histórico show do grupo no primeiro Rock in Rio, em 1985 (assista ao vídeo abaixo), brilhando e sendo zoado por Freddie em "Crazy Little Thing Called Love". Apesar de aparecer muito discretamente em uma das apresentações mais importantes do grupo – a participação no Live Aid, em 1985, teve importância essencial naquela ocasião. E acompanhou cada uma das turnês da “Rainha” até hoje, incluindo a fase liderada pelo cantor Paul Rodgers e os recentes shows com Adam Lambert como frontman.
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Na verdade, como o tecladista de 67 anos contou recentemente ao site da revista Rolling Stone, ele foi um dos responsáveis pela escolha de Lambert como novo vocalista. “Minha mulher foi quem o descobriu”, lembra Edney. “Ela estava assistindo a ‘American Idol’ e me disse: ‘Acho bom você vir aqui ver isso’. Ele estava cantando ‘Whole Lotta Love’ (Led Zeppelin) e eu pensei: é preciso ter uma garganta e tanto para cantar com tamanha confiança. Então eu dei um Google no nome dele e a primeira coisa que apareceu foi um vídeo com ele cantando ‘Bohemian Rhapsody’ à capela. Mandei um email para Roger (Taylor, baterista do Queen) e avisei: ‘Achei nosso homem...’” O projeto Queen + Adam Lambert já está em sua sétima turnê internacional e, segundo Edney, deve prosseguir. “Brian (May) e Roger continuam a fazer planos, a pensar em novas músicas para o repertório do ano que vem. Eles já têm 70 anos e eu não estou longe disso. É um desafio.”
A tarefa de continuar sem Freddie Mercury – que já era um mito do rock mesmo antes de morrer, em 1991 – obviamente não é simples. Spike relata um pouco de suas experiências com o cantor: “Como ele era? Ele podia ser como uma diva. Mas era muito divertido e podia também se tornar muito reservado, muito tímido. Ele soltava sua faceta de estrela do rock no palco mas nos bastidores ele preferia uma vida mais calma. Assim era o Freddie que conheci. Seus dias mais selvagens já tinham ficado para trás na época em que me juntei à banda. Sua vida privada era muito reclusa, e ele permitia apenas que certas pessoas participassem.”
As turnês com Lambert, Taylor e May são só o capítulo mais recente de uma história iniciada em 1984. Logo depois que o Queen gravou o álbum “The Works”, Spike Edney foi convidado a se tornar músico de apoio do quarteto, quase que por acaso. “Eles precisavam de um tecladista. Eu estava tocando em um bar em Londres e um dos caras da equipe técnica – um conhecido meu a quem eu não via há 10 anos – chegou para mim e disse: ‘Eu trabalho para Roger Taylor. Você quer um emprego?‘ Na entrevista eles só perguntaram se eu tinha um passaporte e se estava disponível para uma turnê mundial. E eu disse: ‘Mas isso é ridículo! E se eles não gostarem de mim?’ A resposta foi: ‘Então você volta pra cá no dia seguinte.’ Trinta e cinco anos depois, aqui estou eu...”
Curiosamente, antes de ser incorporado ao Queen, Edney não era um fã da banda. “Meus heróis são Stevie Wonder e Sly Stone”, confessa o músico, que atuou como diretor musical das bandas de cantores de soul music como Ben E. King (1938-2015), do hit "Stand By Me", e Edwin Starr (1942-1993). “Aquela coisa toda do glam rock nunca foi a minha praia. Mas eu observava o Queen com certo interesse.” Seu currículo incluía participações em shows e discos das bandas Duran Duran, Boomtown Rats e Dexy’s Midnight Runners (tocando trombone — e detestando o líder do grupo, Kevin Rowland). Como multi-instrumentista e cantor, sua função sempre foi ajudar o quarteto (que até 1982 não usava músicos de apoio) a recriar ao vivo os elaborados arranjos de estúdio. “John (Deacon, baixista) não cantava e Brian só ficava ao microfone de vez em quando. Então, com a minha entrada o Queen passou a ter três vocalistas, em vez de dois (Freddie e Roger) e meio.”
Spike estava lá no show do Queen no Live Aid. Ele praticamente não aparece no vídeo oficial da apresentação; no finalzinho da execução de “Hammer to Fall”, ele é o cabeludo tocando guitarra ao fundo, perto de uma pilha de sintetizadores. “Hoje, com o passar do tempo, aquele dia se tornou um momento importante e icônico. Mas naquele momento era só mais um show. As pessoas não acreditam que eu estava lá, porque não apareço na filmagem! Toquei em “Crazy Little Thing Called Love”, a música inteira, e a câmera não me filmou um segundo sequer!” O que poucos sabem, mas está bem documentado por uma reportagem do "The New York Times" do ano passado, é que Spike foi crucial para a presença do Queen naquela ocasião. Por ter tocado com The Bootown Rats, banda de Bob Geldof, foi ele quem fez a ponte com o quarteto. Na verdade, fazia pouco tempo que o tecladista estava acompanhando o Queen. Houve relutância, mas não por tanto por questões entre Freddie Mercury e os outros músicos, como aponta o filme "Bohemian Rhapsody", mas porque a banda estava exausta. Vinha de um fim de turnê (que passara pelo Rock in Rio em janeiro) por Austrália, Nova Zelândia e Japão. "Fred, por que você não vai fazer? O palco inteiro foi construído pra você, praticamente. Darling, é o mundo", disse Bob Geldof. O resto é história.
Spike é o diretor musical do Queen Extravaganza, único espetáculo de tributo autorizado por Brian May e Roger Taylor, que tem um brasileiro como vocalista, Alírio Netto, e que fará sua segunda passagem pelo país agora. Os shows marcados: 12 de setembro, no Credicard Hall, em São Paulo; 13 de setembro, no Km de Vantagens Hall, em Belo Horizonte, 14 de setembro no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, 15 de setembro em Vitória e 17 de setembro em Brasília. Spike, no entanto, não viaja com o Extravaganza: afinal, está acompanhando o Queen em sua turnê atual.
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