Serguei era uma lenda viva do rock nacional. Há quem diga que a alcunha foi criada por ele mesmo — e foi —, mas era assim que o “músico-não-músico” era conhecido. Serguei nunca foi cantor. Em sua alma, vivia o espírito excêntrico de quem gostava de rock como modo de vida. E gostar do rock, do jeito que ele fazia, ia além de saber cantar, tocar um instrumento ou ser, de fato, um músico. Serguei era um artista cujo talento não vinha de suas performances. O que ele sabia mesmo — e queria a qualquer custo — era entreter.
Que o diga quem o acompanhou na "Escalada do Rock" em 1990. O concurso deveria selecionar roqueiros brasileiros pouco conhecidos para tocarem na segunda edição do Rock in Rio, que aconteceria em janeiro de 1991. Sérgio Augusto Bustamante, seu nome de batismo, acabou escolhido como hors concours. No dia da final, disputada no Circo Voador, fez o show que consideraria como o melhor de sua carreira. Tocou "Help", dos Beatles, "Satisfaction", dos Rolling Stones, e "Summertime", de Janis Joplin.
Serguei saiu de um dos mais lendários palcos do Rio de Janeiro ovacionado pelo público presente, que gritava seu nome como se ele fosse a encarnação do deus do rock. "Acho que essa conquista foi um prêmio pelos meus 27 anos de luta", disse, à época, como registrado pelo jornal "O Globo".
Em 26 de janeiro de 1991, Serguei subia ao palco do Maracanã, no Rock in Rio II, para se apresentar pelos 20 minutos de sua vida. Caracterizado com uma peruca loira, ele usou de seu carisma para preencher o vazio que a pouca voz não ocupava. Com muito movimento e endereçando beijos aos que o assistiam, apresentou poucas músicas e reeditou a "Summertime" que havia apresentado no Circo. Dessa vez, no meio da galera em um dos momentos que, depois, definiria como "a sensação de transar com 100 mil pessoas". Depois dali, ele ainda estaria nas edições de 2001, 2011 e 2013.
O exibicionismo dos palcos e a irreverência das falas o tornavam Serguei. O amor pelo rock era tanto que o fez montar, dentro da própria casa, em Saquarema, cidade na região dos Lagos do Rio de Janeiro, o Templo do Rock, uma espécie de museu dedicado ao gênero.
No começo de maio, o cantor havia sido internado em um hospital em Saquarema para tratar uma pneumonia. No último dia 28, foi transferido para Volta Redonda. Segundo informações do “G1”, na última quinta-feira, um dia antes de morrer, havia aberto os olhos e esboçou um sorriso ao ouvir um rock colocado pelos médicos para estimulá-lo a acordar. Às vezes, se utiliza a voz de um parente próximo, mas, no caso de Serguei, a escolha não poderia ter sido outra. Afinal, era na música que a nossa lenda do rock — com suas performances exibicionistas — estava em casa.
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